08/04/2009

Os insecticidas - Eficazes e perigosos

Insecticidas e repelentes: use mas não abuse

Alguns insecticidas contêm substâncias potencialmente cancerígenas e não se conhecem os efeitos dos repelentes a longo prazo. Aplique-os, por isso, com moderação e em casos pontuais.

Eficazes e perigosos

  • Os insecticidas, sob a forma de aerossol e difusor eléctrico, são muito eficazes a eliminar insectos voadores. Entre os repelentes, a aplicar sobre a pele, os que conferem maior protecção são os que têm maiores concentrações de DEET.
  • Em média, os insecticidas actuam durante quatro horas. A longevidade dos repelentes depende da temperatura e humidade do ambiente, transpiração, vestuário, quantidade de produto e actividade (desporto, etc.). Aplique quando necessário, mas faça-o com moderação.
  • Os insecticidas, desde que usados de acordo com as instruções, não têm riscos imediatos para o consumidor. Porém, a longo prazo, alguns podem ser cancerígenos e desreguladores endócrinos. Evite sobretudo os que contêm Butóxido de Piperonilo (PBO), um agente possivelmente cancerígeno e que provoca náuseas, diarreia e problemas respiratórios.
  • Quanto aos repelentes, ainda não existem estudos conclusivos sobre a sua toxicidade a longo prazo. Mas o facto de não haver informações não significa que sejam inócuos.

Proteger a saúde e o ambiente

  • Uma rede mosquiteira impede a entrada de insectos voadores e, assim, que tenha de recorrer a produtos químicos constantemente.
  • Não deite restos de biocidas na canalização, para evitar a poluição.
  • Faça um uso segundo as instruções, rigoroso, pontual e durante um período reduzido.
  • A higiene pessoal e da casa não exigem produtos especiais.
  • Quem tem filhos não deverá exagerar na limpeza do lar, para protegê-los dos microrganismos. Os mais pequenos, quando estão em casa, ficam mais expostos às alergias, algumas acentuadas pelos produtos de higiene, do que às doenças bacterianas. As bactérias são úteis para desenvolver as defesas do organismo.
  • Se tiver de aplicar um repelente, compre um produto cujo princípio activo não exceda os 25 por cento. O conselho é válido para países como Portugal. Viajando para um local com risco de malária ou dengue, opte por concentrações mais elevadas.
  • Escolha a versão do repelente consoante a zona do corpo a proteger. Os aerossóis não devem ser aplicados no rosto. Os sticksou as loções são mais adequados.

Riscos para o ser humano

  • Algumas substâncias na composição dos biocidas podem ter efeitos graves na saúde. A Tetramina, a Permetrina, a Imiprotrina, a Cipermetrina e os Piretrinóides são encontrados nos insecticidas para mosquitos e moscas, formigas e insectos que atacam plantas, aerossóis antipulgas e produtos antitraça. Em função do tipo de contacto, provocam perturbações nos olhos e ao nível digestivo, reacções alérgicas cutâneas ou respiratórias.
  • A Dietiltoluamida (DEET) está presente nos repelentes para mosquitos. Em doses elevadas e usada com frequência, pode causar distúrbios neurológicos e crises de asma. Os recém-nascidos são muito sensíveis.
  • O Paradiclorobenzeno destina-se a matar as traças. Pode originar irritação nos olhos, pele e mucosas do nariz, distúrbios neurológicos e do comportamento, assim como danos no fígado.
  • A naftalina, usada contra as traças, provoca náuseas e dor de cabeça e é potencialmente cancerígena. Além disso, as bolinhas podem ser confundidas com rebuçados pelas crianças.

07/04/2009

Atualização em repelentes de insetos

Repelentes são métodos utilizados para afastar insetos e evitar suas picadas. Podem ser físicos (mosquiteiros, telas, aparelhos eletrônicos) ou químicos (sistêmicos, ambientais ou tópicos).

A classe insecta compreende milhares de espécies muito diferentes, envolvendo mosquitos, moscas, pulgas, piolhos, besouros, baratas, percevejos, carrapatos, vespas, abelhas etc.

Essa variedade de espécies causa a transmissão de inúmeras doenças diferentes (e específicas para cada espécie), bem como uma exclusividade de reações alérgicas, além da sensibilidade a diferentes repelentes, que devem ser adaptados aos vetores específicos.

Os mosquitos, são os insetos mais importantes na transmissão de doenças no nosso meio, e com a ocupação urbana descontrolada, desmatamento e redução dos seus predadores, adaptaram-se às cidades e aumentaram sua população descontroladamente, principalmente nos meses quentes do ano.

Algumas Doenças causadas pela picada de insetos:

InfecciosasImunoalérgicas
Febres Hemorrágicas (dengue, febre amarela)Urticária
LeishmanioseEstrófulo
MaláriaPrurigo de Hebra
FilarioseAnafilaxia
PestePênfigo foliáceo
Doença de LymeHistiocitoma
Febre maculosa das montanhas rochosasReações bolhosas
Arboviroses / encefalites viraisHiperpigmentação pós-inflamatória
Doença de Chagas 
Doença do sono 

Somente as fêmeas dos mosquitos são hematófagas (buscam a albumina do sangue) e capazes de transmissão direta de doenças por picadas na pele humana.

Há uma notável predisposição individual a picadas de inseto decorrente de substâncias exaladas pela pele, principalmente pele suada. A presença de eczema aumenta 4 vezes a atração dos insetos. Idade adulta, sexo masculino, vestimentas escuras, calor, umidade, odor (CO2, ácido lático, suor e perfumes) exalados pela pele são fatores predisponentes. Há fatores climáticos bem descritos, ou seja, em climas quentes e úmidos, há um aumento na notificação de doenças transmitidas por insetos, bem como alergias a picadas.

Conhecendo os hábitos de movimentação dos mosquitos, medidas de barreira como telas, mosquiteiros ou o fechamento da casa impedem efetivamente o alojamento dentro das residências e as picadas noturnas.

O uso de dispositivos elétricos luminosos que fulguram os mosquitos atraídos pela luz azul são eficientes para eliminar certo número de mosquitos (de ambos os sexos), mas não são definitivos na prevenção de picadas, visto que a atração individual e o instinto das fêmeas são preferenciais ao estímulo luminoso do aparelho.

Em áreas abertas, os dispositivos luminosos atraem um número maior de insetos para sua região.

O emprego de aparelhos ultrassônicos não se mostrou eficaz na prevenção de picadas em diversos estudos.

O uso de alimentos como alho e vitamina B1, na tentativa de promover uma proteção sistêmica pelo odor exalado pelo suor são medidas válidas, porém, de eficácia modesta, não beneficiando aqueles indivíduos mais predispostos às picadas, além da necessidade de ingestão de altas doses desses produtos.

Os derivados piretróides exalados pelos dispositivos térmicos ligados à corrente elétrica ou borrifados como aerossóis são inseticidas e repelentes de eficácia reduzida, porém, sua potência pode ser aumentada se atingir altas concentrações em ambientes pequenos (10 a 20m2), quando ligados por horas antes, sendo úteis na prevenção da invasão domiciliar.

Os repelentes ditos “naturais”, baseados em essências de ervas, certas fumaças, frutas cítricas, óleo de citronela, óleo de coco, óleo de soja, eucalipto, cedro, gerânio hortelã e melissa têm sido usados por séculos, com efetividade razoável, não favorecendo os indivíduos mais susceptíveis.

Segundo pesquisa da FIOCRUZ, a vela de andiroba (Carapa guaianensis) se mostrou eficaz em prevenir 80% das picadas do Aedes aegypti em uma área de 10m2 (ambiente fechado).

O emprego da vela acesa por 48h contínuas gera um ambiente de até 27±10m2 100% livre do Aedes sp., pela ação fago-repelente. O óleo de andiroba, usado topicamente encontra-se em estudo e parece oferecer até 100% de proteção.

Estudos com óleo de andiroba vão determinar a sua efetividade no uso tópico. O que já é empregado pela população leiga.

Os repelentes ambientais (velas, incensos, aromatizadores) não oferecem proteção tão eficiente contra as picadas quanto os tópicos, porque sua concentração tende a diminuir rapidamente em ambientes abertos, e dificilmente protegem áreas maiores que 10m2 da sua fonte.

Os repelentes químicos tópicos são os mais usados ao redor do mundo, agem a partir da formação de uma camada de vapor com odor ofensivo aos insetos. É importante escolher o tipo de veículo adequado para aplicação na pele (aerossol, gel, loção) e no vestuário (aerossol/spray), as associações com hidratantes, protetores solares (que costumam reduzir a eficácia do repelente); bem como conhecer a durabilidade da ação e sua efetividade para cada tipo de inseto.

A permetrina (0,5 a 1%) é um repelente e inseticida, segura, apresenta alta taxa de proteção (>90%) quando aplicado no vestuário, telas e mosquiteiros.

A permetrina impregnada nas roupas é eficiente na prevenção de infestações por carrapatos.

Houve um severo impacto na transmissão de malária desde que foram empregados cortinas e mosquiteiros nos quartos dos moradores de áreas endêmicas.

Soldados com a farda impregnada por permetrina reduziram em mais de 70% o contágio por malária e leishmaniose.

Dietiltoluamida (DEET) vem sendo empregada há mais de 40 anos como repelente (moscas, mosquitos, percevejos) e encontra-se na formulação das marcas líderes de mercado. De baixa toxicidade, a sua eficácia se correlaciona com a concentração empregada. Apesar disso já houve relato de intoxicação em crianças após o uso tópico.

Concentrações entre 30 e 50% proporcionam proteção de 80 a 95% contra o Aedes aegypti, por cerca de 3h. Quando empregado acima de 50%, a proteção chega a 100%.

Há várias marcas de mercado que empregam <10%>

A associação de DEET tópico e permetrina nas roupas permite a mais ampla proteção disponível contra carrapatos e uma grande variedade de mosquitos.

Perfil de Repelência da associação DEET 50% tópico + permetrina 1% nas roupas:

ExcelenteBoaNula
AnofelinosTriatomídeosVespas
Flebótomos Abelha
Aedes  
Culicídeos  
Simulídeos  
Carrapatos  
Moscas  
Pulgas  

Outros produtos sintéticos incluem dimethyphtalate, ethylexanediol, IR35/35, piperidine, bayerepel e KBR 3023.

A associação de DEET 20% e ethilexanediol (EHD) 15% é uma forma eficiente de aumentar a eficácia do DEET sem aumentar sua toxicidade.

Em estudo de dose-resposta entre os repelentes do mercado norte-americano, a repelência em minutos e a variação entre os testes foram publicados por Fradin, conforme a figura abaixo:

Diretrizes no uso de repelentes:

1. Medidas Inespecíficas

Conhecer: Hábitos dos mosquitos / Epidemiologia local
Usar telas / mosquiteiros
Higiene pessoal / casa / quintal
Lixo / Depósitos de água fechados
Preservar sapos, pássaros, aranhas, lagartixas, peixes
Caminhar em trilhas / estradas, evitar se embrenhar pela mata
Usar roupas compridas / claras / espessas / chapéus

2. Repelentes

Ambientes fechados: Andiroba, permetrina (contínuo)
Adultos: DEET (30-50%) + permetrina nas roupas
Gestantes: Mosquiteiros / roupa (permetrina) + andiroba tópica
Crianças (2 -10 anos): Mosquiteiros / roupa (permetrina) / DEET <10%>Selva / epidemia: DEET (50%) + permetrina nas roupas
Carrapatos: Permetrina roupas e calçados

Literatura Sugerida:

  1. Brown, M; Hebert, AA. Insect repellents: An overview J Am Acad Dermatol 1997;36:243-9
  2. Fradin, MS. Mosquitoes and Mosquito Repellents: A Clinician's Guide. An Int Med 1998. 128:931-940.
  3. Griffiths, WAD; Wilkinson, JD. Cap 78: Topical Theraphy: Repellents and related contents. In: Rook: Textbook of Dermatology. 1998. London. Blackwel-Science.
  4. Curtis CF. Fact and fiction in mosquito attraction and repulsion. Parasitology Today. 1986;2:316-8
  5. Buescher MD, Rutledge LC, Wirtz RA, Nelson JH. The dose-persistence relationship of deet against Aedes aegypti. Mosquito News. 1983;43:364-6.
  6. Quarles W. Botanical mosquito repellents. Common Sense Pest Control. 1996;12:12-9.
  7. Nasci RS, Harris CW, Porter CK. Failure of an insect electrocuting device to reduce mosquito biting. Mosquito News. 1983;43:180-3.
  8. Lewis DJ, Fairchild WL, Leprince DJ. Evaluation of an electronic mosquito repeller. Canadian Entomologist. 1982;114:699-702.
  9. Fradin MS et al. N Engl J Med 2002; 347 (1):13-6

Comentários e Sugestões: heliomiot@uol.com.br